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“HARDWARE A memoria se consome” - Felipe Lanzas

HARDWARE
A memória se consome.
“100 anos depois da Semana de 22: o que ainda nos resta devorar?”
Felipe Lanzas e Ian Gabriel

O curta-metragem trata do tema proposto trazendo a visão de 3 gerações quanto ao que se pode e como se pode devorar da “Semana de 22”, passando essa visão através de diálogos entre os personagens.

Adelaide, de 80 anos, começa a sua narrativa guiada pelo neto, Felipe, que a questiona quanto as suas memórias de consumo da arte, desde a infância, evidenciando o que é arte para ela. Sandra, filha de Adelaide e mãe de Felipe, de 56 anos, guiada pelo filho, trata de falar sobre como a arte é apresentada em seu trabalho e como isso impacta na vida da sociedade ao seu redor, por fim, Felipe, artista plástico de 25 anos, fala sobre como é devorar o que produz e alimentar sua família com a arte.

Para compreender o que ainda nos resta podemos devorar, devemos compreender o que iremos devorar, desta forma, entende-se por arte aquilo que nos é apresentado durante a vida, o que nos é dado para crescer, amadurecer e viver. A arte, que deveria ser parte da nossa criação e formação, se torna um luxo que poucos tem a oportunidade de ter, se torna um prato que poucos tem a oportunidade de devorar; sendo assim, a produção procurar oferecer uma visão de que são poucas as coisas que podemos devorar. Enquanto as classes “altas” devoram tudo o que quiserem, resta a classe “mais baixa” devorar o que podem; como a memória perdida em hardwares e imagens.
          E, uma vez que cada pessoa vive as histórias próprias e alheias de maneira distinta,
as sombras que acompanham as imagens podem apenas ser intuídas e penetradas
como campos de probabilidades, um espaço comunicativo de improvável determinação,
às vezes mesmo impossível de se determinar. (Baitello, 2014, p. 36)

Desta forma, entendesse que a imagem devora a arte e nós devoramos a imagem, que volta a nos devorar, já que nós buscamos virar imagem. Tudo o que temos e podemos absorver está em arquivos que são cada vez mais difíceis de acessar, por complexidade, oportunidade e vontade.
Na cidade de Suzano, tem-se acesso à cultura e arte, que nos é ofertada em diversos pratos e de diversas formas. Com a migração de Adelaide, ainda adolescente, os personagens se criaram nas ruas da cidade, que conhecem como a palma da mão. Viveram em outras cidades e até em outros países, mas Suzano sempre esteve presente como um lar, um local para retornar. É no município que o curta acontece, na casa onde os personagens cresceram e viveram, casa esta que eles deixarão logo.

Pontualmente, no ano de 2022, quando o mundo está em caos e em guerra, os personagens conversam sobre a importância da arte e do conhecimento, sobre o que ainda se tem a consumir e se alimentar, reconhecendo que o rico tem vontade de comer e o pobre tem fome.

O filme traz a voz de cada personagem, em diálogos e imagens deles em seus afazeres, funções e trabalhos. Adelaide, trata de cuidar da casa e de apreciar as imagens católicas que espalhou pela casa, enquanto se lembra de sua infância na roça; Sandra chega cansada do trabalho e tem mais trabalho para fazer, como organizar o trabalho do dia seguinte; Felipe trabalha em sua arte, a arte que alimenta a família que o incentivou a viver da arte que produz. As imagens ilustram a vida de cada um, se alimentando da realidade deles para se fazer presente na realidade de quem assiste.

As imagens serão captadas por um quarto personagem, Ian de 26 anos, morador da cidade de Suzano, que teve seu primeiro contato com a arte através da escola, que teve a religiosidade plural presente em sua infância, que sonhava em fazer da escrita a sua arte, mas se viu rendido as imagens, se alimentado delas e sendo alimento para elas, através de sua profissão.

Desta forma, ele age como um narrador, que fala através das imagens, tudo o que vê da família ao seu redor, se preocupando em passar despercebido e captar os movimentos, que absorve os diálogos e traz comentários, questionamentos e levantamentos que instigam o pensamento dos personagens principais e, no que lhe concerne, transmite para quem assiste.

A palavra hardware é utilizada para se referir aos componentes eletrônicos que compõe um computador ou smartphone[1], podendo ser traduzida como material ou acessório. Para a arte, é no hardware que ela encontra refúgio e futuro, onde ela pode continuar crescendo e se tornando parte das pessoas, como um alimento fácil. Na “Era da Informação” onde tudo é levado rapidamente de um lado do mundo para o outro, ansiosamente esperado por todos, a arte se torna um prato raso na mão da população, que através das telas se alimentam do que conseguem consumir em 15 segundos, através de softwares e aplicativos. Se for interessante, se repete e se não for, se descarta.

Quando se pensa no ainda nos resta a devorar, se pensa na quantidade de arquivos que criamos, de imagens e mais imagens que encontramos, de acesso à informação e da vontade de acessar. Tudo isso se dá por componentes eletrônicos que juntos formam o que conhecemos como tecnologia, que diariamente se torna obsoleta e se reinventa a partir de suas partes; processo esse que acontece com a própria arte, desde os primórdios, carregando informações valiosas, mas que com o tempo se tornam apenas memória. O caminho que se segue é devorar a evolução da arte, ontem feita em paredes de cavernas e hoje, trabalhada com canetas digitais e telas sensíveis ao toque.

Quem consome a arte, consome o que pode consumir, o que aprendeu a consumir. Quem cria a arte, consome a arte que cria e precisa se preocupar em alimentar os seus e com o que vão consumir da arte que criou. Serão apenas imagens? Serão dados escritos em zeros e uns? Ou voltaremos a desenhar em paredes?



REFERENCIAS

Baitello Junior, Norval A era da iconofagia: reflexões sobre a imagem, comunicação, mídia e cultura [livro eletrônico]/ Norval Baitello Junior. — São Paulo: Paulus, 2014. — (Coleção Temas de Comunicação) 2,9 Mb; ePUB

[1] GOGONI, Ronaldo. O que é Hardware?. Tecnoblog. 2020 Disponível em: <https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-hardware/> Acesso em: 15 de março de 2022.
Argumento e roteiro produzidos para participação na 2ª EDIÇÃO DA MOSTRA CULTURA É ATITUDE Tema: “100 anos depois da Semana de 22: o que ainda nos resta a devorar?”.
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